Ana Maria Soek
A pergunta “Quem educa o educador?” parece ter uma resposta óbvia: “Outro educador”. No entanto, essa questão leva a outra: “Quem educa esse educador que agora está educando o outro?”
Segundo Pinto (2003), o profissional de ensino deve compreender que a fonte de sua aprendizagem, de sua formação é sempre a sociedade, pois é desta que ele recebe os conhecimentos e é para esta que ele, mesmo que indiretamente, devolverá esses conhecimentos em forma de ensino.
Para esse autor, a formação do educador está condicionada aos diferentes contextos sociais, contudo, esse profissional nem sempre tem noção crítica de seu papel na sociedade, como força atuante no desenvolvimento econômico, político e cultural.
Assim, a formação do educador deveria priorizar a sua função social e a sua indispensável vinculação na formação dos sujeitos sociais no contexto em que se apresentam. Mas o que se percebe é que, na maioria dos cursos de formação de professores, a teoria e a prática docente parecem cada vez mais se distanciar da realidade ao se trabalhar com o imaginário de um aluno ideal.
Na EJA, o descompasso entre o ideal e o real é maior ainda, visto que muitos cursos de formação de professores sequer oferecem disciplinas voltadas a essa modalidade educativa, apesar de as Diretrizes Curriculares para EJA ressaltarem a necessidade de adequação à modalidade:
E esta adequação tem como finalidade, dado o acesso à EJA, a permanência na escola via ensino com conteúdos trabalhados de modo diferenciado com métodos e tempos intencionados ao perfil deste estudante. Também o tratamento didático dos conteúdos e das práticas não pode se ausentar nem da especificidade da EJA e nem do caráter multidisciplinar e interdisciplinar dos componentes curriculares (BRASIL, 2000a, p. 58).
A questão, pois, é analisar: qual seria a formação necessária para dar conta da realidade dos alunos da EJA que chegam cansados, a ponto de dormir durante quase toda a aula? Como atender às diferenças de interesse quando se tem na mesma sala de aula adolescentes, adultos e idosos? Como administrar, no processo ensino-aprendizagem, as constantes ausências, em sua maioria justificadas por questões de trabalho, família e doença? Por outro lado, como o professor deve proceder para reconhecer e validar os conhecimentos prévios que os alunos da EJA já trazem? Como trabalhar de forma interdisciplinar se as disciplinas continuam sendo organizadas de forma isolada e com tempo mínimo para as áreas de conhecimento?
Sabemos que na formação de professores, em geral, priorizam-se os conteúdos da área de formação, algumas ferramentas pedagógicas e metodológicas. Para os professores que atuam na EJA, além desses itens resta o desafio relativo à complexidade diferencial dessa modalidade de ensino e a difícil tarefa de se pensar sobre a realidade concreta da escola e dos sujeitos com que se vai trabalhar.
Referências
BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Básica. Parecer n.º 11, de 10 de maio de 2000. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos.
Disponível em:
MACHADO, Maria Margarida. A prática e a formação de professores na EJA. In: 32.ª REUNIÃO ANUAL DA ANPED, 2000, Caxambu (MG). Disponível em:
PINTO, Álvaro Vieira. Sete lições sobre Educação de Adultos. 13.ed. São Paulo: Cortez/Autores Associados, 2003.
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