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sexta-feira, 2 de abril de 2010

Escola: um espaço em transformação
Uma visão de futuro
C. A. de Medina 1

Todo trabalho voltado para o futuro tem muito da imaginação e não estamos impedidos de especular. Muito do que vai ser dito aqui tem possibilidades de ocorrer, mas quando, em quanto tempo, não sabemos. Muitos trabalhos no Primeiro Mundo, elaborados dentro desta perspectiva futurológica, colocam o ano 2030 como o momento futuro para a análise da situação da educação. Há alguma razão para isso? Há. É que os alunos de hoje, entrando na escola com 5 anos de idade, estarão alcançando a idade adulta e profissional naquele ano.

Se assim é, a escola deveria estar preparando crianças e jovens para um mundo que se acredita será diferente do que é hoje e que, certamente, poderá vir a exigir outras competências ainda em gestação.

Na visão do futuro vai haver muito idealização, por deixar em silêncio dificuldades concretas atuais. Ela terá muito do que "deve ser", por não dispor de elementos para dizer, com segurança, como construir este "dever ser". Se considerarmos os dados da realidade disponíveis no Brasil, certamente, nos defrontaremos com um quadro escolar precário e deficiente: nem todas as crianças estão na escola; nem todos os que estão terminam o percurso escolar, nem todas as escolas dispõem dos recursos humanos e materiais necessários para uma boa educação, sendo uma instituição em que o peso dos seus custos está em pessoal, este mal-remunerado e, se professor, exercendo uma profissão não valorizada socialmente. Isto se reflete no possível desinteresse da escolha por exercer essa profissão por parte das novas gerações de formandos.

Esta é uma discussão séria. Pode-se perguntar: se o aumento dos alunos é crescente em seus diversos níveis, como se conseguirá estimular a formação dos novos professores e de acordo com os níveis de qualificação e de competência necessários para os novos desafios com que a Escola se defronta?

É voz corrente que países com mão-de-obra com formação escolar adequada têm vantagens comparativas sobre os demais. E a atividade produtiva é cada vez mais complexa e mais exigente de qualificação. E a fala geral, global, universal é a de que um dos objetivos a alcançar é o da educação para todos e uma educação que seja permanente no decorrer de toda a vida. Na verdade, já estamos vivendo o rompimento da antiga concepção das três etapas da vida: aquela em que se aprende, aquela em que se trabalha, aquela em que se descansa. Fala-se, hoje, na necessidade de a sociedade se transformar em uma "sociedade educativa", em que se implante a motivação para aprender, a sociedade em seu conjunto tornando-se uma organização aprendente. Em outros termos, ultrapassar a imagem de um tempo de aprendizado concentrado - infância e juventude - de um local específico - a escola - e entregue a um só professor ou a uma série excessiva ou concomitante de professores únicos. É a ruptura do chamado "4 x 1" (um professor, uma disciplina, uma classe, uma hora).

Entretanto a presença do desemprego por desqualificação, o iletrismo dos adultos, o analfabetismo informático e a necessidade da renovação dos quadros profissionais de qualidade vêm afetando a imagem da Escola na sociedade.

Há no ar uma percepção da obsolescência das formas tradicionais da educação e que é agravada pela rapidez e aprofundamento das mudanças em curso, todas em favor do esforço de implementação das novas tecnologias e da inovação científica.

Estas idéias afetam a missão tradicional da escola, a da reprodução, conservação e transmissão de saberes. A escola, hoje e amanhã, para sobreviver como instituição educativa, tem de ser um lugar de inovação, oferecendo um quadro de formação capaz de responder aos novos desafios da economia e da sociedade. E dispõe das novas tecnologias de comunicação e de informação (NTCI) para exercer o serviço de difusão dos saberes e competências.

As NTCI permitem pôr em prática idéias educacionais já debatidas há anos. Juntas alteram os tipos de investimentos materiais e de formação existentes e voltados para a educação à antiga. Assim: demanda de orçamentos crescentes em equipamento e formação e demanda crescente de formação para os "ensinantes" pelas alterações de suas práticas.

Como aumentar aqueles orçamentos para a educação? Afirma-se que a educação a distância "custa menos", mas nem ela é o único item do orçamento, bem como sua introdução implica outras atividades com seus respectivos custos. Mas a educação a distância tem um forte apelo para as atividades industriais e de serviços de ponta, sendo estes aliados importantes para a sua implementação.

Pode-se, hoje, imaginar centros públicos juntando tecnologias, tornando-se fontes de saberes, mas, certamente, para funcionarem com eficácia terão de dispor de pessoal de apoio competente em todos os seus níveis de atuação. Logo, outra idéia surge: podem vir a ter um papel motor nas regiões onde se concentra a pobreza, dada a facilidade de acesso que permitem.

Um argumento logo é colocado: o uso não-generalizado das NTCI corre o perigo de gerar grupos de incluídos e de excluídos, estes tornados desqualificados, enfim, não empregáveis. A discussão da exclusão, tão válida pela sua dimensão de justiça, serve para facilitar, ao mesmo tempo, a valorização do uso progressivo das NTCI mesmo se, no início, ela gere o "analfabeto informático".

Como se pode verificar a visão do futuro que valoriza a utilização progressiva da NTCI não é uma questão simples. Falar das NTCI (TV, satélite, Internet, computador, rede, DVD, CD-Rom, celular etc.) e seu uso na educação (e na escola) é fácil. Adquirir equipamentos é possível. Mas a questão é bem mais complexa. É indispensável a criação e implementação de redes informáticas, a transformação do ambiente da aprendizagem, com programas e domínio dos processos cognitivos, observação atenta e sua tradução em termos de conteúdos de aprendizagem dos saberes em plena evolução. Tudo com repercussão nas próprias instituições educativas, sendo que a escola não será mais a única existente.

De fato, a escola vem perdendo sua posição de monopólio para fornecer e difundir os conhecimentos. No setor educativo existem áreas onde o saber é um produto que se compra e se vende. Neste sentido, estão surgindo outras entidades educativas que não a escola como a conhecemos.

Tudo isto repercutirá, também, nas estratégias de intervenção do Poder Público na educação. Ele terá de oferecer estratégias para os sistemas educativos, incluindo-se aí parcerias e investimentos, inclusive para a formação dos "ensinantes".

É preciso nos lembrarmos sempre de que a educação é interação entre pessoas. O ensino a distância não substitui o acesso aos textos (livros), nem a relação privilegiada entre professor e aluno. Um computador jamais substituirá o professor (on line) ao lado dos alunos. Entretanto, dificilmente este professor do futuro será um fornecedor solitário de um saber especializado. Suas funções serão diversificadas e, espera-se, isto trará uma formação e um reconhecimento social adequados. Pois é preciso restaurar a autoridade do "ensinante".

Tal responsabilidade será ainda maior porque a NTCI rompe ou permite romper com a uniformidade, que impõe percurso quase idêntico a todos os alunos. A concepção pedagógica aí vigente será a de desenvolver e utilizar potencialidades presentes nos alunos, no decorrer do período escolar. Pela grande variedade de materiais colocados à disposição e pela diversidade provável de centros de ensino, o "aprendente" terá de conhecer diversas maneiras de aprender. Em outros termos, terá de aprender a aprender.

O fato de fazê-lo em rede vai permitir uma interatividade com dados e idéias, encorajando-se a colaboração, o que implica mudanças na forma de participar e deixa de definir o aprendizado apenas por medidas quantitativas. Passa a ter menos importância o acúmulo de conhecimentos e a ter mais importância o desenvolvimento das capacidades de aprendizagem, o aprender a aprender.

Podemos apresentar aqui uma imagem das condições do aprender no futuro:

As classes existentes não serão mais constituídas por alunos de acordo com a idade. Elas se constituirão de acordo com as modalidades de aprendizagem, em termos de ritmos, conteúdos ou perfil.

O professor não será um transmissor de conhecimentos específicos, mas um mediador, aquele que possibilita a criação de situações de aprendizagem com relação aos saberes mais diversos. Ele será como uma correia de transmissão entre saberes, colocando o aprendente em contato com as provas auto-avaliativas e avaliadas progressivamente. O aprendente fará uma operação de validação dos saberes adquiridos e saberá incluí-los num projeto de aprendizagem.

O professor colabora com o aprendente com os conteúdos a trabalhar e que não serão fixados anteriormente. A intenção da colaboração é fortificar as tarefas de aprendizagem e a descobrir outras, produzindo saberes e os utilizando.

O professor trabalha com os alunos sobre os conhecimentos, formulando hipóteses, provas, argumentação. O professor deverá saber manipular saberes e explicitar os passos utilizados para aprender.

Por isto mesmo os alunos serão grupados por centros de interesse ou passos de aprendizagem, e não por idade: um trabalho de equipe entre ensinantes (podem também ser vários) e aprendentes.

As carteiras dos alunos serão computadores com as informações básicas necessárias (conteúdos, manuais, atlas, dicionários etc.) para a tarefa. Os lugares de aprendizagem poderão ser dispersos. As escolas estarão abertas à vida social. Qualquer um, aceitando as condições definidas, poderá ter acesso e se inscrever na escola. As salas serão anfiteatros, salas moduláveis em função das atividades e salas virtuais. A gestão terá de ser democrática. Pais e alunos participando com o diretor. Neste momento, as NTCI conseguiram invadir a escola. É um outro mundo.

Mas esta é uma visão de futuro ainda pouco provável para nós. Mas as tendências em sua direção estão presentes. Para nós, a questão ainda parece ser: como abrir caminho para a escola nas áreas desfavorecidas do país? Como a escola deverá agir em face da grande pobreza? E aqui reencontramos a parceria Família-Escola.

Uma primeira afirmação: ignorantes em saberes escolares, essa população pode ser composta de experts em saberes da vida. Na verdade, os pobres são verdadeiros experts da pobreza.

A afirmação valorizadora da expertise dos pobres quanto à pobreza é questionada pela concepção que diz: na luta contra a pobreza, pode-se estimar que as medidas curativas voltadas para os adultos custam muito caro, donde ser bem melhor financiar medidas preventivas para crianças e jovens. Com isto, os adultos, já excluídos, permaneceriam excluídos. Só os filhos teriam oportunidade de melhorar.

A única maneira de sair deste "dilema" sobre recursos é mostrar como adultos atendidos pela escola podem gerar efeitos altamente benéficos, através de suas aquisições escolares, sobre seus próprios filhos, familiares e vizinhos.

Para isto ocorrer é preciso um dado comportamento dos "ensinantes". Normalmente há uma preocupação com o fracasso escolar desses adultos pobres. Os ensinantes são persuadidos de que tentaram tudo. Mas não analisaram as expectativas que tinham com relação a esses pais, que, talvez, não compreendem. O desencanto resultante - não corresponderam - pode passar a questionar as formas do pedagogicamente correto que busca associar os pais nas atividades escolares. Diante desses desfavorecidos, o que lhes aparece é o cortejo da violência e exclusão do qual os ensinantes não participam nem querem participar. Mas tal cortejo tem de ser a premissa de todo o trabalho. Esta ocorre exatamente porque aquelas pessoas são e estão assim: desfavorecidos.

Aqui é importante pensar-se um pouco mais nesta questão se queremos tal parceria Família-Escola no futuro. É conveniente nos lembrarmos que a Escola atua com exigências. Entre elas, hábitos de higiene e limpeza, vestimenta, pontualidade, presença, resposta às convocações, acompanhamento dos deveres, e, até, atendimento a custos não-gratuitos de atividades previstas. O não atendimento a estas exigências pode fazer que os pais e crianças dessas áreas pobres se sintam pessoas oriundas de outro planeta. E o resultado perverso pode ser um maior distanciamento, um afastamento, a escola sendo vista como um ambiente de dominação, de sofrimento, do qual até as crianças se protegem e desconfiam.

Para evitar este encaminhamento perverso, só há um caminho: admitir de início a realidade em que vivem estas famílias e, se se deseja tê-las como parceiras de um processo, vê-las como pessoas e estar à disposição, antes de tudo, a ouvi-las na parceria desejada. Mas ouvi-las sobre o quê? Sobre suas dificuldades com a própria escola. Isto é, considerá-las como pessoas que são e parceiras de uma proposta, e, como tal, portadoras de saberes e experiências, certamente distintas das dos ensinantes.

Como pôde declarar uma mãe de uma comunidade atendida pela escola: "Encontrei vários tipos de professores. Uns que decidiram que com pessoas como nós, nada há a fazer. Outros, acreditando poder fazer algo com nossos filhos. Ainda outros, querendo lutar conosco pelo futuro de nossos filhos. Estes foram os únicos que transmitiram o gosto de aprender a meus filhos".

O que isto significa? Que nestas áreas desfavorecidas não basta ser professor. A escola tem de se tornar uma organização aprendente, com professores conscientes disso. Sem uma relação recíproca de reconhecimento, escuta e parceria de saberes, relação a partir da qual se constrói a confiança mútua, a escola permanecerá como algo estranho, senão hostil ao mundo vivido pelas crianças e seus familiares.

Como concluir esta visão do futuro? Talvez com algumas colocações básicas.

Além dos instrumentos culturais de base (ler, escrever, calcular, comunicar-se), é comum colocar-se sobre a escola a missão de estabelecer a igualdade de chances, a formação do senso crítico e o respeito às pessoas. Enfim, formar o cidadão, gerar a cidadania.

Entretanto, é sabido que o que não pode ser aprendido através de práticas pedagógicas formais é aprendido por outros meios. E a instrução formal só pode transmitir uma parte dos conhecimentos necessários para constituir personalidades saudáveis e cidadãos responsáveis. Daí dizer-se que a moderna educação pública tem de se limitar apenas ao conhecimento objetivo. Este é um problema presente quando há ação da escola tentando substituir a família e a comunidade local. A escola precisa se conscientizar de que a sua missão é descobrir a forma capaz de tornar a sua atividade específica em um fator de motivação para o aprender e o aprender a aprender. Isto basta e já é muito. O resto ela não dá conta: não se pode pretender transformar as instituições educativas em instituições de "bem- estar", ainda mais se elas estão com dificuldades para alcançar seus objetivos pedagógicos originais. Bolsa-escola é estímulo para a vinda à escola da criança. Mas o trabalho da escola é com a aprendizagem dessas crianças e seus pais.

Mas a escola permanece e permanecerá por muito tempo a última grande instituição de integração cultural e social freqüentada por todos os membros de uma geração. Com o ensino de massa obrigatório, a escola é um lugar por onde todas as crianças passam.

Quais os desafios? São dois: 1) a aceleração do progresso científico e funcional e a perturbação da nossa concepção do espaço/tempo com as novas NTCI e 2) a ruptura real/virtual, com perda de nossas raízes e referências em um mundo exigente de adaptabilidade, mobilidade e flexibilidade. Tais desafios nos mostram que é preciso repensar a pedagogia e os programas.

Podemos dizer que há quatro missões da Escola:

Transmissão dos conhecimentos e de uma cultura (elo com o passado);

Desenvolvimento da personalidade das crianças, com uma educação voltada para os valores éticos e para a cidadania;

Preparação para uma vida profissional (móvel e intercultural);

Contribuir para a igualdade de oportunidades.

Concluindo, a escola terá de mudar. Mas não apenas para se adaptar, mas para formar cidadãos ativos, capazes de dominar a tecnologia e dar sentido à vida individual e coletiva. Ela deve contribuir para preparar um futuro com uma dada concepção da vida em sociedade. Assim, contribuir para o respeito ao equilíbrio ecológico do planeta, para recriar a paz, para reduzir a violência e para forjar um projeto do viver em conjunto da sociedade.

É a implantação de uma proposta a parte difícil. A tradição é implantar mudanças dirigidas de fora, de cima para baixo. A conseqüência disto é a perda de autonomia - se existente - da organização local. Existem sempre espaços para a automudança e possibilidades de formulação de alternativas de transformação. Já as propostas vindas de fora esbarram, muitas vezes, no fato de que o quadro local tem pouca experiência para implementá-las.

Vejamos a noção do tempo. Pensar em mudança na escola é trabalhar com a certeza de que em educação não existe curta duração. E, na sociedade, o que vemos é a instantaneidade da comunicação (on line), o curto prazo em detrimento do médio e do longo prazos. E pensar toma tempo, estudar e aprender muito mais. E fala-se na necessidade da mobilidade e da flexibilidade, enquanto o tempo da escola lembra a construção lenta e demorada dos templos religiosos, das catedrais.

Podemos perguntar: qual a vivência do tempo nas escolas no Brasil, principalmente aquelas localizadas nas regiões mais desprovidas de recursos? E como os alunos terão de ser preparados para viver em um mundo em transformação, e que será bem diferente do atual quando eles saírem da escola?

Bibliografia

Como desejávamos abordar o futuro, procuramos uma bibliografia mais próxima das questões levantadas em países do Primeiro Mundo. Daí, utilizarmos o trabalho da UNESCO - Rapport Mondial sur l'Éducation, Paris, 2000 e da OCDE - Le textes innovantes, Paris, Ceri/OCDE, 1999 e o site www.futuribles.com, de onde aproveitamos os seguintes artigos: Alain Michel, Une école pour un monde nouveaux, Futuribles, nº 252; Jerome Bindé, L'Education au XXIéme siécle, Futuribles, nº 250; e no site www.angelfire.com/biz/telospress, utilizamos o número especial da revista Telos, The crisis of education, nº 111.

NOTAS:

Sociólogo, autor de Favela e o Demagogo (Martins); Família e mudança, autoridade e participação, participação e trabalho social. 5ª edição; A arte de viver em família (Vozes); Socorro, Rio de Janeiro 1999-2000 (Vida & Consciência). Consultor desta série.

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