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sexta-feira, 2 de abril de 2010

Família: O ausente presente dentro da instituição escolar
Maria Helena Bartholo *

Entendo que o sujeito compreende em si mesmo um entrelaçamento de múltiplos componentes, que não se reduz à singularidade morfológica, ou psicológica, temos que pensá-lo no contexto onde surge, ou seja, enquanto membro de um sistema muito mais amplo. A teoria geral dos sistemas de Von Bertalanffy, em 1950, nos oferece uma nova forma de pensar e ver o mundo. As questões deixaram de ser descritas pelo modelo linear que buscava causas para explicar os efeitos. Essa forma de ver as coisas implica uma epistemologia diferente; implica nos perguntarmos sobre os "comos" ao invés dos "porquês". Dentro desse paradigma da ciência contemporânea, pensamos a instituição e a família como sistemas humanos em constante interação, que possuem como elemento de interseção aquele sujeito "aluno/filho". Evocando Bertalanffy no que diz respeito ao conceito de totalidade, pensamos em: "o todo é maior do que a soma de suas partes". Desta forma, ao lidarmos com os membros de um sistema estaremos lidando com suas singularidades morfológicas, psicológicas, mas também com suas histórias familiares, seus valores, mandatos, sua família externa e interna, que se colocam em movimento quando este está em relação. Em se tratando da instituição escolar esta questão se torna muito mais complexa, devido ao número de indivíduos que se constituem em grupos com um objetivo específico. Discutir sobre estas questões é buscar compreender e aprender a ver as relações como algo a mais do que aquilo que se apresenta, possibilitando novas construções para os processos interacionais.

Pensar e escrever sobre esse tema é fazer um caminho de volta na minha trajetória profissional. O aluno chega a escola com seus modelos, com seus medos suas dificuldades e desejos, tendo que aprender os valores da instituição, conviver com diferentes visões de mundo. É um momento rico e delicado para ele, para sua família e para a escola. Aos 17 anos, como professora de alunos do pré-escolar, eu percebia e sentia que precisava dos pais dos meus alunos para compreendê-los melhor e, desta forma, ter mais eficácia no meu trabalho. O que eu não sabia ainda é que aquela classe era um sistema, e o que estava sob a minha orientação era mais do que a soma de Paulo, Joana, Tiago, etc..., eram eles, e mais as suas histórias seus padrões familiares, e mais as minhas histórias como aprendente e a minha visão de mundo. Ou seja, uma multiplicidade de formas de aprendizagem, visões de mundo. Fiquei trabalhando em escola por 20 anos, durante esse período, as dinâmicas familiares chamavam a minha atenção. Por que era mais difícil com umas famílias do que com outras? E por que isso nem sempre tinha uma ligação direta com o aluno? Hoje, na clínica como psicopedagoga e terapeuta de família, sou uma curiosa nos padrões relacionais e no que eles ajudam ou dificultam a aprendizagem e a adaptação do sujeito. Vejo os pais como as primeiras figuras ensinantes, a forma como a criança aprende e se relaciona com o objeto de conhecimento tem a marca deixada por eles. A família entra então como um tesouro contido neste sujeito, e à medida que vamos descobrindo e nos aproximando de seus valores ampliamos nossa compreensão sobre o seu processo. Esse material colhido nos remete a outra posição, nos oferece um novo olhar frente ao sintoma, ou as dificuldades da criança/adolescente, auxilia na não patologização das ações e abre para intervenções promotoras de saúde, por estar sintônicas com o momento de vida daquele indivíduo e com o contexto de onde vem.

A ciência moderna tinha um olhar microscópico sobre as questões, buscava as causas. A ciência contemporânea sai do radicalismo e/ou, da visão linear de causa e efeito e nos convida a incluir o "como" e o "e". Nosso olhar para o sujeito, dentro da instituição escolar tende a ficar prisioneiro do fato imediato. A epistemologia que premia o nosso dia a dia e com a qual fomos habituados nos impele a ler e entender as situações sem contextualizá-las no tempo e espaço.

Outro princípio da ciência contemporânea é aquele que nos diz que a realidade não existe sem o observador, ou seja, os fatos e os relatos existem desde o observador que os fez e estão contaminados com sua subjetividade e sua visão do mundo.

Dentro dessa premissa, não existe uma única verdade, uma única versão, cada sujeito vive e interpreta a situação de acordo com sua visão de mundo. Com isso Escola e Família, que possuem funções que se assemelham e se aproximam, funções estas que se resumiriam, sinteticamente, como Proteger - Educar - Dar autonomia, podem permanecer no espaço da troca e de suplementariedade (conceito utilizado por Alícia Fernandes, que fala do respeito pelas diferenças e semelhanças que se somam e onde uma não anula a outra), sem cair na armadilha do espaço de disputa, buscando acertos e erros. Pensando deste jeito, imprimimos uma curiosidade na nossa forma de nos relacionarmos com o outro. Dessa forma, olhar o sujeito na Escola é pensá-lo com sua história, no seu momento de vida. Participar deste convite da integração e contextualização é não dicotomizar e se abrir para uma multiplicidade de possibilidades.

A possibilidade da relação amplia da postura de: mudar o sujeito, para avaliarmos nossas posições e leituras e criarmos padrões relacionais mais férteis, mais significativos, mais eficazes.

A Família entra como um tesouro que vai ajudar a compreender melhor aquele sujeito e facilitar nossas intervenções. Em nenhum momento me propus a definir o que entendo como família, pois acredito que não é um termo passível de definição, mas sim de descrição. Os diferentes formatos da constituição familiar cabem no que escrevi, o que percebo é que a complexidade e o tipo de relação que o aluno mantém com a escola e com o seu processo de aprendizagem não está restrito ao tipo de família (famílias tradicionais, famílias de recasamento, famílias de um só membro parental, famílias de pais separados, famílias de casais homossexuais), mas e também nas relações que seus membros mantêm entre si. Como se organizam, como estão definidos o papel, a função e o lugar de cada um neste sistema e qual o tipo de relação que mantém com o sistema escolar, qual o valor que destinam ao estudo, à cultura, à formação. É no momento de entrada do primeiro filho na escola que o sistema familiar tem seus valores colocados à prova e expostos. A Escola entra para denunciar e colocar a família em confronto com as diferenças e com a diversidade de valores e de formas de educar. A parceria destes dois sistemas é fundamental para que ocorram os processos de aprendizagem e crescimento de todos os membros destes sistemas, uma vez que entendo que o processo de aprendizagem não está circunscrito a conteúdos escolares.

Bibliografia

Fernández, Alicia. Os idiomas do Aprendente. Porto Alegre, Artmed Editora, 2001.

Hoffman, Lynn. Fundamentos de la terapia familiar: Un marco conceptual para el cambio de sistemas. México, Fondo De Cultura Económica, 1994.

Maturana, Humberto. Emoções e Linguagem na Educação e na Política. Belo Horizonte, UFMG Editora.

NOTAS:

* Pedagoga com especialização em Psicopedagogia pelo Centro de Estudos Psicopedagógicos do Rio de Janeiro e pela EPSIBA (Escuela Psicopedagógica de Buenos Aires), Vice-Presidente da Abpp do Rio de Janeiro, Terapeuta de Família pelo Instituto de Terapia de Família do Rio de Janeiro, Psicopedagoga Clínica e Membro da Diretoria do CEFAI (Centro de Estudos da Família Adolescência e Infância); Psicóloga.

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